Conheça a trajetória guerreira de dona Marisa Letícia na luta por um Brasil mais justo e humano
“A mídia ignorou a trajetória de dona Marisa como se ela tivesse sido apenas uma dona de casa, vivendo à sombra do marido”, afirma Ivânia Pereira, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Pereira se refere ao fato de a biografia de dona Marisa ter tido pouco destaque. “Ignoraram que ela foi uma guerreira desde a infância. Participou ativamente dos movimentos pela melhoria da vida do povo e das campanhas presidenciais do marido (Luiz Inácio Lula da Silva)”, diz.
A labuta da menina que nasceu em São Bernardo do Campo, em 7 de abril de 1950 no seio de uma família pobre, começou muito cedo. Aos 9 anos já trabalhava como babá de sobrinhos do pintor Candido Portinari, num tempo em que não existia regulação nenhuma para o trabalho doméstico, nem controle sobre o trabalho infantil.
De acordo com informações da Fundação Perseu Abramo e dos Jornalistas Livres, aos 13 anos ela já era operária da fábrica de balas, dropes e confeitos Dulcora. Dali saiu para o primeiro casamento aos 19 anos. Seis meses depois estava viúva e grávida do primeiro filho.
Com a morte do primeiro marido, dona Marisa foi à luta para sustentar ela e o filho. Como operária foi ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (na época de São Bernardo e Diadema), tratar da pensão do falecido marido, onde conhece Lula, então responsável pela assistência social do sindicato.
Começa o namoro com ele em 1973 e se casam em 1974. Lula se torna presidente do sindicato no ano seguinte. Ela disse em uma entrevista que cansada da ausência do marido sindicalista, decidiu fazer um curso de política com Frei Betto.
Foto: Arquivo pessoal
A sua militância cresceu e não parou mais. Em outra entrevista afirmou que “em um casamento o amor é muito importante. Mas sonhar juntos é fundamental”. E ela fez o seu marido sonhar com ela em construir um novo Brasil.
Tanto que para a presidenta deposta Dilma Rousseff dona Marisa foi uma "mulher de fibra, batalhadora que conquistou espaço e teve importante papel político”. Foi ela que fez a primeira bandeira do Partido dos Trabalhadores (PT), no ano de sua fundação em 1980.
"Eu tinha um tecido vermelho, italiano, um recorte guardado há muito tempo. Costurei a estrela branca no fundo vermelho. Ficou lindo". Nesse mesmo ano, o ex-presidente Lula foi preso juntamente com outros sindicalistas, porque na ditadura (1964-1985) a greve era proibida.
Dona Marisa então arregaçou as mangas e organizou uma grande passeata só de mulheres pelo centro de São Bernardo contra a prisão arbitrária dos dirigentes sindicais. "Hoje parece loucura. Fizemos uma passeata das mulheres. Encheu de polícia”, contou ela à Fundação Perseu Abramo.
Em 1º de janeiro de 2003, tornou-se primeira-dama com a posse de Lula à Presidência da República. No mesmo ano disse à revista Criativa que “quando somos jovens imaginamos que o mundo tem que ser cor-de-rosa, só que ele não é. Isso muitas vezes é um choque. O amadurecimento proporciona isso, compreensão das coisas, mais paciência. Nós aproveitamos o nosso tempo juntos para ficar bem, felizes”.
Já como primeira-dama em solenidade em Brasília (Foto: Ricardo Stuckert)
Já a ex-ministra Miriam Belchior afirma que “fora de casa Lula é o centro das atenções. No campo doméstico, Marisa é soberana. Ela é a âncora da família”.
“A morte de Marisa Letícia mostra que as pessoas estão perdendo o sentimento de humanidade”, reforça a cetebista Pereira. “A mídia burguesa enxerga a mulher somente como coadjuvante, sempre à sombra dos homens. Assim não veem a nossa luta para construir o mundo novo. Luta que contou com a presença dessa guerreira".
Portal CTB - Marcos Aurélio Ruy